A importância da rede FTTH em um processo de M&A – Setor de Telecomunicações
Durante os anos que tenho participado diretamente nas negociações de Fusões e Aquisições no setor de telecomunicações, testemunhei diversas transações fracassarem devido a pendências de documentação de redes ópticas. Sabemos que a correção de uma documentação de rede física não é uma tarefa fácil, especialmente quando se trata de redes PON – isso porque são redes passivas, sem eletrônica, o que dificulta para um inventário automatizado e rápido. Para ter um mapa da planta é necessário mobilizar equipes externas e internas e realizar levantamentos em campo, atualizações em projeto no BackOffice, atualizar o cadastro, o que torna o processo complexo e demorado.
O tamanho da rede externa e a diferença entre o que está documentado do que está fisicamente implantado impactam diretamente na duração e no custo dos inventários necessários. Em muitos casos, esses inventários podem levar meses para serem concluídos e exigem investimentos significativos. No entanto, é importante destacar que, apesar desses desafios, o não investimento nessa área pode acabar saindo ainda mais caro para as empresas, pois uma vez identificado a falta de documentação adequada em um M&A os investidores certamente irão aplicar descontos que podem ser significativos no valor da empresa-alvo. O motivo é simples, fora o custo de aquisição da empresa, a falta de documentação irá resultar em um aumento nos gastos para que seja realizado o inventário, em outras palavras, o comprador está adquirindo um carro sem documentação e vai precisar gastar para deixar “a papelada” em dia, por óbvio isso será descontado do preço de venda do vendedor.
Para os investidores é de extrema importância que esta avaliação seja feita, por isso, o processo de auditar as documentações são exigidos frequentemente durante as diligências. As auditorias se tornaram cada vez mais minuciosas, especialmente quando se consideram que as operações de banda-larga já possuem uma longa história de atuação com infraestrutura óptica, pois à medida que o tempo passa, as possibilidades de falhas de atualização aumentam. Também é importante lembrar que muitas operações cresceram através do inorgânico (M&A). Em vários casos, as novas aquisições não integram as bases de cadastro ou realizam inventários nas redes das empresas adquiridas. Ao comprar ou fundir-se com uma empresa nessas condições, o investidor acaba sofrendo as consequências, assumindo as falhas nas documentações da rede orgânica da empresa adquirida, além de lidar com as faltas de padrões documentais das redes provenientes das fusões e aquisições anteriores.
Estes fatores podem impactar significativamente os compradores, alguns dos problemas mais comuns que eles acabam enfrentando são:
Em muitos casos, as informações sobre a rede dependem exclusivamente da memória de técnicos ou proprietários, sem que haja as informações de projetos atualizadas em sistemas de cadastro de documentações. Essa dependência excessiva de pessoas representa um risco, que é potencializado principalmente quando uma nova gestão assume a empresa. É ainda mais preocupante em um setor altamente competitivo como o de telecomunicações, onde os assédios de mercado são frequentes e a continuidade dessas pessoas-chave na operação pode ser comprometida ao se deparar com uma proposta de trabalho extremamente atrativa de um concorrente. Ademais, cada profissional pode ter abordagens diferentes e maneiras distintas de executar tarefas, o que pode resultar na falta de padrões e inconsistências nos resultados.
Outro aspecto que pude observar em relação aos sócios e diretores de ISPs, por falta de uma orientação adequada, na tentativa de impressionar ou até mesmo por desconhecimento, acabam informando ao possível comprador que possuem 100% da rede documentada e regularizada, por não estarem mais próximos do operacional e dos problemas básicos que afetam diariamente a operação. Enxergavam apenas um tipo de documentação, porém quando se trata de planta externa precisamos separar em três níveis distintos que devem estar registrados e atualizados:
1) Mapa de rede física
2) Diagrama multifilar de emendas
3) Documentação de portas de atendimento (CTO > Cliente).
O mapa de rede física é fundamental, possibilita que o investidor saiba exatamente o que está comprando, onde essa rede está acomodada a nível de caixas, cabos, PoP(s) e demais elementos de redes ópticas e a partir disto trace estratégias de crescimento dessa nova unidade adquirida, identifique sobreposições e sinergias com seus negócios atuais e tenha segurança que está investindo em algo sólido. Além dos impactos operacionais, bem conhecidos pela maioria, que a falta de um mapa atualizado das redes ópticas pode gerar.
A documentação porta-cliente também possui altíssimo impacto nos processos técnicos de M&A, visto que essa informação afeta fortemente o operacional (dia a dia) da empresa, pois indica a escalabilidade da base com a infraestrutura atual, níveis de ocupação e ociosidade, direcionando as ações de vendas. Operações que não possuem este tipo de documentação acabam sendo impactadas com inviabilidades no pós-venda e/ou deixando dinheiro na mesa, perdendo a oportunidade de ativar cliente, pois acreditam que as caixas estão completas enquanto em diversos casos os cabos drops estão desativados. A falta dessa documentação também ocasiona investimentos em crescimento de portas, ampliações de rede desnecessárias, além das dificuldades em manutenções, etc.
Por último é também de extrema importância a documentação de diagrama multifilar de emendas, que indica as interligações e ocupações dos capilares. Essa pendência também tem forte impacto em manutenções, análises de escalabilidade da rede, estratégias de utilização ou rentabilização das fibras apagadas (SWAP, IRU), etc.
Cada um destes níveis de documentações em uma escala considerável, geram grandes esforços de atualização e consequentemente alto dimensionamento de CapEx para adequações durantes as diligências. Geralmente os investidores consideram valores médios de mercado, com empresas terceiras, empreiteiras especializadas nestes inventários para precificar o custo dessas atualizações. Esse cálculo de serviço normalmente gera um preço maior, comparado, por exemplo, com o ISP realizando previamente este trabalho, este preço maior possivelmente será descontado do valor da empresa.
E para você, estes fatores mencionados te tranquilizam ou te preocupam?
Carlos Eduardo Bampi